As cotas raciais e o Brasil: dez anos depois

Uma das mais bem-sucedidas políticas públicas da história do país e que mudou o Brasil

No último dia 29 de agosto completaram-se dez anos da promulgação da lei 12.711/2012, a chamada “lei de cotas”, que institui a reserva de vagas para estudantes pobres, negros e indígenas em instituições federais de educação superior e de ensino técnico de nível médio.

A lei de cotas raciais fez bem mais do que abrir as portas das universidades públicas para pessoas pobres, negras e indígenas. As batalhas por sua implementação revelaram, ao mesmo tempo, o poder transformador das políticas públicas, mas também o quanto este país é atravessado pelo racismo e pelo ódio de classe.

Para quem acompanha o cotidiano nas universidades, o impacto das cotas raciais foi nítido. E não me refiro apenas a mudanças quantitativas, mas também às transformações qualitativas deflagradas na educação superior do Brasil.

Isso faz da universidade um lugar de legitimação de certos grupos sociais cujos membros, ao passarem pelo ensino superior e por certas instituições de prestígio, são “autorizados” a participar de espaços de poder e decisão. Não seria exagero dizer que a universidade brasileira sempre foi um sistema de validação racial e de classe.

Se as cotas não eliminaram essa lógica, certamente conseguiram subvertê-la. Ficou mais difícil com as cotas considerar natural a ideia de que ser médico é “ser branco”. Ficou mais difícil considerar natural que a filha da empregada seja herdeira da mesma profissão da mãe, já que se abriu a possibilidade desta mesma filha ser médica, advogada ou engenheira.

Por certo que o deslocamento do imaginário social provocado pelas cotas raciais gerou reações que, como dito antes, mostraram a pior face do Brasil. Tornou-se evidente que parte da sociedade se recusa a aceitar que pobres, negros e indígenas possam fazer mais do que servir e limpar.

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