Aliança entre antigos adversários traria mais votos para 16% dos ouvidos e menos, para 11%
É o que mostra a mais recente pesquisa do Datafolha. O levantamento foi feito com 3.666 pessoas em 191 cidades brasileiras, de 13 a 16 de dezembro, e tem uma margem de erro de dois pontos para mais ou menos.
Questionados sobre o impacto da associação entre ex-adversários na possibilidade de escolher o petista, 16% disseram que ela aumentaria. Para 11%, a presença do ex-tucano na chapa diminuiria tal chance. Não quiseram opinar 4% dos ouvidos.
No geral, contudo, as pessoas ainda não sabem muito sobre a articulação. Apenas 32% dizem ter ouvido falar acerca da ideia. Destes, 12% se dizem bem informados sobre o tema, 15%, mais ou menos e 5%, mal.
Entre o eleitorado mais abastado, que ganha mais de 10 salários mínimos mensais e compõe 4% da amostra, a taxa de conhecimento sobe a 64%. Isso cai a 23% no grosso da população, 51%, que integra o segmento que ganha até 2 mínimos.
Segundo o Datafolha, entre aqueles que declaram voto em Lula, 24% creem que a chapa reforçaria a intenção, e 9% se veem desmotivados. Já para os eleitores declarados do presidente Jair Bolsonaro (PL), 4% dizem que ver aumento das chances de optar por Lula e 9%, diminuição.
Ainda no campo conservador, 12% dos que dizem votar no ex-juiz Sergio Moro (Podemos) falam que Alckmin aumentaria a chance deles de votar em Lula, enquanto 9% afirmam o contrário. À esquerda, eleitores de Ciro Gomes (PDT) são mais críticos: 13% topariam ir de Lula-Alckmin, mas 16%, não.
O ex-governador deixou o partido que ajudou a fundar há 33 anos nesta semana, após meses de especulações acerca de seu destino depois que sua pretensão de tentar voltar ao cargo que ocupou quatro vezes foi barrada no PSDB.
Isso ocorreu porque o agora pré-candidato tucano à Presidência, governador João Doria (SP), tem um acordo para entregar o governo em abril para seu vice, Rodrigo Garcia, que era do DEM mas filiou-se ao PSDB após o racha da sigla na qual estava na eleição da presidência da Câmara.
Com isso, as portas tucanas se fecharam de vez para o ex-governador, de resto um desafeto de Doria, a quem acusa de traição por ter especulado concorrer à Presidência em 2018 e a quem credita falta de empenho na postulação fracassada do ex-governador ao Planalto naquele ano —Alckmin teve pouco menos de 5% dos votos, a pior votação do PSDB na disputa.
Ainda assim, o eleitor declarado de Doria é o que mais se empolga com a hipótese da chapa Lula-Alckmin, com 21% considerando o voto nela, ante 9% que dizem o oposto.
O plano inicial do ex-governador era o de ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes, provavelmente pelo PSD de Gilberto Kassab ou, talvez, pela fusão do DEM com o PSL em curso, o União Brasil. Foi aí que a chapa com Lula atravessou as discussões.
Como a Folha revelou, dirigentes do PT e do PSB começaram a ventilar a hipótese, e Alckmin os ouviu. Os principais interessados eram os pré-candidatos dos partidos em São Paulo, respectivamente o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad e o ex-governador Márcio França.
Segundo relatos, Lula empolgou-se com a ideia de ter um vice de perfil conservador e fama de moderado, menos por motivos eleitorais e mais para fins de composição de governo. Nesta pesquisa Datafolha, com 48% e 47% nos cenários desenhados, o ex-presidente estaria eleito no primeiro turno se a eleição fosse hoje.
Como não é, surgiram as tratativas para dar uma roupagem mais ampla à chapa, ainda que as simulações do Datafolha também deem a vitória a Lula. Parte do PT reagiu, apontando a contradição de ter um antigo adversário ao lado e considerando que a fatura pode ser executada por uma chapa pura de esquerda.
Lula deu de ombros e as conversas continuam, com Alckmin se manifestando favoravelmente a elas. Entre petistas, há quem considere a discussão antecipada demais, dado que usualmente o cargo de vice é usado para articulações visando finalizar a preparação para a campanha, quando o cenário eleitoral costuma ser diferente.
Quem não gostou da história foi o grupo que estava montando sua candidatura estadual, Kassab à frente. O candidato da turma ao Senado, o apresentador José Luiz Datena, creditou à ambiguidade do ex-governador o fato de ele ter cancelado sua ida ao PSD e fechado acordo para apoiar a dupla Doria e Garcia em 2022.
Falta também o arranjo entre PT e PSB, os pais da ideia. França quer Haddad como candidato ao Senado em sua chapa, e o ex-prefeito deseja o inverso. Confusão estabelecida, falta ainda Alckmin, conhecido por agir sempre a seu tempo, anunciar sua decisão, o que não deve ocorrer antes do ano que vem.
Fonte: folha.uol.com.br