Dossiê de servidores do Inep lista pressões para suprimir questões do Enem

Material indica ainda censura na divulgação de dados e riscos para Enade e Revalida

SÃO PAULO – Servidores do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) entregaram nesta sexta-feira (19) ao TCU (Tribunal de Contas da União) e à CGU (Controladoria-Geral da União) um dossiê com denúncias de falhas e de interferências que afetam não apenas a realização do Enem, mas também do Enade e do Revalida.

O material, compilado pela Assinep (Associação dos Servidores do Inep), indica ainda haver censura na divulgação de dados e problemas de gestão que atingem áreas-chave para o funcionamento do órgão, como a de suporte tecnológico.

Às vésperas do Enem, que começa no próximo domingo (21), o instituto passa por uma crise histórica com a debandada de servidores de postos-chave e denúncias de interferência no conteúdo do exame e de assédio moral.

Danilo Dupas Ribeiro, presidente do Inep
Danilo Dupas Ribeiro, presidente do Inep – Divulgação/Inep

TCU abriu processo para investigar as supostas irregularidades na organização do Enem. A DPU (Defensoria Pública da União) também entrou com ação na Justiça Federal solicitando que o Inep comprove ter tomado todas as providências para que a prova ocorra sem vazamentos ou fraudes.

A crise deflagrada no Inep também levou entidades educacionais a entrarem com ação judicial pedindo o afastamento de Danilo Dupas da presidência do Inep.

O dossiê levado ao TCU e à CGU elenca pressões sofridas por servidores para a retirada de questões da prova “sem motivo idôneo”. Eles teriam sido pressionados a suprimir perguntas com temas considerados inadequados pela gestão do órgão.

Como a Folha mostrou, o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, para que houvesse questões que tratassem o Golpe Militar de 1964 como uma revolução.

Além das denúncias de interferência ideológica, os documentos mostram uma série de falhas da gestão do órgão para garantir a segurança da prova.

A alta gestão do Inep teria se negado a atuar na resolução de problemas durante a aplicação do Enem.

A equipe que vai atuar na comissão para lidar com incidentes da prova em cada um dos estados só foi montada menos de uma semana antes da realização do exame.

“Essa demora, aparentemente injustificada, repercutiu ainda no aumento de custos de deslocamento das equipes de campo, com valores elevados de passagens aéreas e hospedagens adquiridas às vésperas da data de utilização”, diz o dossiê.

A mesma demora ocorreu para a montagem da equipe designada para cuidar do Enade, que avalia estudantes do ensino superior. A prova foi realizada no domingo (14), mas os servidores só foram selecionados e tiveram passagens compradas seis dias antes do exame.

A comissão de médicos responsável pela elaboração do exame teria sofrido “total reestruturação” em julho deste ano, com a indicação de novos membros pelo presidente do Inep.

O dossiê cita ainda que a censura da alta gestão do órgão já barrou a publicação de estudo que mostra evidências de melhoria em indicadores educacionais gerados pelo Pnaic (Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa), bandeira do governo Dilma Rousseff (PT).

Procurado, o Inep não respondeu sobre o dossiê e as denúncias feitas pelos servidores.

Na quarta-feira (17), na Câmara dos Deputados, o ministro da Educação negou que tenha havido “ordem de cima” para trocar questões do Enem. Segundo ele, qualquer alteração no conteúdo foi decidida pela equipe técnica.

Fonte: folha.uol.com.br

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